segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Mudanças na família e a importância da relação



«Ao longo das últimas décadas, a Grã-Bretanha e outros países ocidentais passaram por mudanças nos padrões familiares, que seriam inimagináveis para gerações anteriores. A grande diversidade de famílias e formas de agregados familiares tornou-se um traço distintivo da época actual. As pessoas têm menos probabilidades de se virem a casar que no passado, e fazem-no numa idade mais tardia. O índice de divórcios subiu significativamente, contribuindo para o crescimento das famílias monoparentais. Constituem-se famílias recompostas através de segundos casamentos, ou através de novas relações que envolvem filhos de relações anteriores. As pessoas optam cada vez mais por viver em coabitação antes do casamento, ou em alternativa ao casamento. Em resumo, o mundo familiar é hoje muito diferente do que era há cinquenta anos atrás. Apesar das instituições do casamento e da família ainda existirem e serem importantes nas nossas vidas, o seu carácter mudou radicalmente.

No entanto, não foi só a família e a composição do agregado familiar que sofreram alterações. A mudança nas expectativas criadas pelas pessoas nas suas relações com os outros foi igualmente importante. O termo ‘relações’, aplicado à vida pessoal, generalizou-se na linguagem corrente há cerca de vinte ou trinta anos, bem como a ideia de que existe uma necessidade de ‘intimidade’ e ‘compromisso’ na vida pessoal. Nos tempos recentes, uma relação é algo de activo – algo em que temos de nos empenhar. Para perdurar no tempo, uma relação depende da confiança entre as pessoas. A maioria dos relacionamentos sexuais são hoje vividos nestes termos, tal como o casamento. As relações dependem cada vez mais da colaboração e comunicação entre os participantes. A comunicação emocional tornou-se central não só no relacionamento que envolve relações sexuais, mas também nas amizades e nas interacções entre pais e filhos.

As transformações mencionadas não se limitam aos países industrializados. Os processos descritos têm vindo a ter lugar – embora de forma desigual – em outras sociedades [por exemplo, na China].»

Anthony Giddens, Sociologia, 5ª edição, F. C. Gulbenkian, 2007, Lisboa, pág. 174

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